Um dos eventos de cinema mais tradicionais do país, o Festival de Gramado foi perdendo o prestígio e glamour que ostentava no passado. Entre homenagens criticadas e filmes de qualidade duvidosa, a “Cannes brasileira”, como sugere o curador Rubens Ewald Filho, não conseguia encontrar o tom entre ser um evento de público, que luta pelo melhor lugar para ver as celebridades desfilarem pelo tapete vermelho, e de relevância crítica.
Em 2011, ainda enfrentou problemas sérios de prestação de contas, que resultaram no afastamento dos, então, organizadores pela prefeitura. Nas mãos de um nova diretoria, o festival na cidade turística completa 40 anos querendo reafirmar sua relevância. A abertura nesta sexta-feira (10) com a exibição especial de “360”, dirigido por Fernando Meirelles , dá a largada para uma das melhores programações dos últimos tempos.
É o que defende Rubens Ewald, que dividiu a curadoria com José Wilker e o jornalista gaúcho Marcos Santuario (conversando à distância, o trio só se reuniu uma vez, na casa de Wilker no Rio). De acordo com o crítico, a organização queria que o festival “mudasse um pouquinho” seu jeito de ser. “Gramado nos últimos anos tem sido muito Brasília, com filmes difíceis, documentários, uma seleção muito estrita”, comenta ele em entrevista.
Nesse sentido, Ewald Filho concorda que os filmes selecionados neste ano, entre 101 inscritos, são mais “fáceis”. “É uma safra brasileira muito viva, cheia de ideias, moderna”, afirma. “Acho que o público, acostumado a ver documentários de índios caçando borboletas, passando fome, vai gostar bastante. Não gosto de uma seleção homogênea demais – tem comédia, drama, um pouco de tudo, como o cinema brasileiro devia ser.”
Ao falar de índios, ele se referia a filmes como “As Hiper Mulheres” , exibido no ano passado, e “Corumbiara”, grande vencedor de 2009 . A programação atual aparentemente preferiu apostar em filmes de comunicação direta, como a comédia “Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida”, do jovem Matheus Souza, aposta do primeiro dia de competição, com o humorista Leandro Hassum.
Há também os documentários musicais “Jorge Mautner – O Filho do Holocausto” , de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, e “Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!” , de Ninho Moraes e Francisco César Filho, ambos “ótimos”, na opinião de Ewald Filho. Ele ainda destaca o longa de estreia do crítico pernambucano “O Som ao Redor”, considerado “surpreendente, meio Robert Altman”; “Colegas”, de Marcelo Galvão, com atores com Síndrome de Down, e “Super Nada”, dirigido pelo quase xará Rubens Rewald (“não somos parentes nem amigos”, garante Rubens).
Fecham a lista de oito longas brasileiros na competição “O Que se Move”, de Caetano Gotardo, e o gaúcho “Insônia”, de Beto Souza, estrelado por Luana Piovani. O curador nega que o filme atenda a uma “cota gaúcha”, já que todos os anos ao menos um filme da região concorre aos prêmios principais, mas admite ser a favor dos festivais “incentivarem a produção local”.
A lista de homenageados chama a atenção: receberão prêmios especiais o celebrado cineasta argentino Juan José Campanella, ganhador do Oscar por “O Segredo dos Seus Olhos”, Betty Faria e o diretor e jornalista Arnaldo Jabor. Logo no primeiro dia, Eva Wilma, aos 78 anos, recebe o Troféu Cidade de Gramado.
A competição ainda traz cinco longas latinos – o destaque é o épico histórico uruguaio “Artigas, la Redota”, de Cesar Charlone (montador de “Cidade de Deus”) – 14 curtas brasileiros e uma ampla mostra exclusiva de curtas gaúchos, que já divulgará os premiados no próximo domingo.
Conheça abaixo os filmes selecionados para o Festival de Gramado 2012.
Longas-metragens brasileiros
“Super Nada” (SP), de Rubens Rewald
“Insônia” (RS), de Beto Souza
“O que se Move” (SP), de Caetano Gotardo
“Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!” (SP), de Ninho Moraes e Francisco César Filho
“Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida” (RJ), de Matheus Souza
“O Som ao Redor” (PE), de Kleber Mendonça Filho
“Colegas” (SP), de Marcelo Galvão
“Jorge Mautner – O Filho do Holocausto” (RJ), de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt
Longas-metragens latinos
“Artigas, La Redota” (Uruguai), de Cesar Charlone
“Calafate, Zoológicos Humanos” (Chile), de Hans Mülchi Bremer
“Vinci” (Cuba), de Eduardo del Llano Rodríguez
“Leontina” (Chile), de Boris Peters
“Diez Veces Venceremos” (Argentina), de Cristian Jure
Curtas-metragens brasileiros
“#”, de Andre Farkas e Arthur Guttilla (SP)
“A Ballet Dialogue”, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon (RS)
“A Mão que Afaga”, de Gabriela Amaral Almeida (SP)
“A Triste História de Kid-Punhetinha”, de Andradina Azevedo e Dida Andrade (SP)
“Casa Afogada”, de Gilson Vargas (RS)
“Di Melo – O Imorrivel”, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro (SP)
“Diário do Não Ver”, de Cristina Maure e Joana Oliveira (MG)
“Dicionário”, de Ricardo Weschenfelder (SP)
“Funeral à Cigana”, de Fernando Honesko (SC)
“Linear”, de Amir Admoni (SP)
“Menino do Cinco”, de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira (BA)
“Meta”, de Rafael Baliu (SP)
“O Duplo”, de Juliana Rojas (SP)
“Piove, il film Di Pio”, de Thiago Brandimarte Mendonça (SP)
Mostra de curtas gaúchos
“24 Horas com Carolina”
“A Vida da Morte”
“As Irmãs Maniacci”
“Boa Viagem”
“Brisa”
“Casa Afogada”
“Dr Lang e a Ciência da Metalinguagem”
“Elefante na Sala”
“Estrada”
“Fez A Barba E O Choro”
“Garry”
“Ignácio e Saldanha”
“Lobos”
“Noite Um”
“O Beijo Perfeito”
“Paraphilia”
“Quem é Rogério Carlos?”
“Rigor Mórtis”
“Rua dos Aflitos, 70”
“Só isso”
“Todos os Meus Ídolos Estão Mortos”
IG